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Obrigado pelas extraordinarias licoes de voo que deixaste nestes dias.

É em qualquer direcção, até que a terra se acabe e o mar comece.

Claramente,a peninsula já não te chega :-)

Quando puderes partilha descrição.

Ricardo

Guest: RicardoLouro @ 2020-07-16 23:22:56 GMT Linguagem Traduzir   
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Amigos,

Gostava de poder dizer que "a pedido de várias famílias" vou contar-vos o meu último voo. Mas não, foi só a pedido do meu homónimo Louro, do António Aguiar - que hoje daqui felicito duplamente por ter feito, ontem 18.07.2020, o seu segundo melhor voo de sempre com quase 130km e por o filho Rui ter feito o seu melhor voo de sempre e o melhor voo de um dia de numerosos recordes pessoais, com 184km - e por vontade minha que, quando já for incapaz de voar, vou continuar a gostar de reviver mentalmente o prazer que este voo me deu.

No dia a seguir ao dos 240km de segunda-feira dia 13, em que num voo de menos de 5 horas fui de Cáceres até quase à praia, a Sul, resolvi não voar. A Vera e eu passámos o dia a trocar um pneu, actividade que tem sido um "must" em todas as mais recentes passagens por Espanha, fomos a uma barragem andar de "SUP" e tomar uns banhos bons e ao fim da tarde, já com uma temperatura menos impossível que durante o dia, fomos conhecer Mérida e jantar com os nossos amigos Cristina e Vento.

Já há um par de dias que a previsão para esta quarta-feira 15 era de vento fraco de Leste a Nordeste, tecto decente mas pouca nuvem. Pensei que com tal previsão podia proporcionar-se um voo na direcção de Lisboa pelo que resolvemos antecipar em um dia o check-out do hotel em Cáceres, antes previsto para dia 16, carregar o carro com a tralha toda com que sempre viajamos e ir para o aeródromo, onde já tinha deixado a asa montada de véspera.

No aeródromo estava uma carrada de pilotos franceses, que tinham chegado na véspera, e o Carlos Puñet. Havia uma azáfama de preparação de voos, entrecortada por visitas da Guardia Civil - também eles de máscara, como toda a gente nestas quentes paragens (e nós, pilotos, à vista dela, por tabela...) - a pedir a identificação aos pilotos.

O calor era insuportável. O vento estava fraco e da direcção prevista e não havia nuvens. Por volta das 14:00 os franceses começaram a descolar enquanto eu mantive a asa no hangar, à sombra, e fui montando os periféricos (variómetros, máquina de filmar, radios) com calma, pois tinha decidido descolar depois de toda a gente, para o dia estar mais estabelecido e a probabilidade de merrecar ser menor.

Depois de o penúltimo francês descolar fui buscar uma dolly, trouxe-a para o hangar, coloquei, com a ajuda da Vera, a asa em cima e dirigi-me para a pista onde aos franceses se tinha juntado o Konrad Heilman, o piloto brasileiro que encontrei no ano passado em Zújar e em Tacima e que parece estar em todo o lado, que se ia vestindo e comentando que aquela altura, em que tínhamos de nos vestir para as temperaturas à volta de 0º que esperávamos encontrar no cloudbase durante o voo quando naquele momento estávamos ao Sol com, certamente, muito mais de 40º, era uma das mais difíceis de suportar no voo livre.

Descolei antes dele, numa descolagem fácil mas em que me mantive muito baixo, a quase um palmo do chão, nos primeiros metros de reboque. Ao princípio segui bem, alinhado com o triciclo rebocador, mas depois comecei, como tinha acontecido dois dias antes com o Carlos Puñet - e que ele me tinha dito nessa manhã ser culpa exclusiva minha, que o rebocador ia sempre estável e a subir... -, a andar para cima e para baixo do triciclo, sem conseguir estabilizar a altitude relativa. De tal maneira que pouco depois da descolagem, ainda a 300 e poucos metros do chão, um sacão mais violento rebentou o fusível da minha corda de reboque e fiquei sozinho e baixo.

O calor insuportável que voltaria a sofrer se aterrasse no aeródromo, o carregar a asa às costas até à zona de descolagem, o tempo que o procedimento de aterragem e re-descolagem ia demorar foram factores que condicionaram o meu empenho em agarrar fosse o que fosse que me permitisse subir. Uns providenciais pássaros - grandes grifos pretos e castanhos que felizmente abundam naquelas paragens - mostraram-me onde não se descia e, enrolando suave e atentamente, consegui manter um zerinho que se transformou em algo mais depois de várias recentragens, sempre auxiliado pelos bichos, subindo devagar mas regularmente. Às tantas vejo o Konrad ser depositado pelo rebocador 200 m abaixo de mim e fui enrolando por cima dele.

Durante esta subida e depois de estar a mais de mil metros acima do chão comecei a fazer dois procedimentos que espero conseguir melhorar no futuro: calçar luvas duplas - no rebocado, em que não tenho de agarrar a asa pelos montantes, até podia calçá-las antes da descolagem - e mudar os Flymasters, que levo amarrados no canto direito do triângulo quando faço reboque ou traccionado, para que o cabo de reboque não se prenda neles, para o meio da barra, para ficarem mais à vista. Este procedimento tem muito risco porque em determinada fase cada um dos variómetros fica apenas seguro na minha mão, sem qualquer ligação à asa que impeça a sua queda... Como digo, é um procedimento a melhorar...

Aos 2400 m e a subir a apenas a 1m/s vejo o Konrad, então já à minha altura, sair da térmica para Sul. Dei mais duas voltas, a ver para onde iria a seguir, escolhi a direcção de Oeste, onde havia um mar de sobreiros mas uma nuvenzinha com um aspecto razoável, e fui nessa direcção. A 10km do aeródromo, já por cima dos sobreiros, a 1500m e por baixo da nuvem, nada de subida. Por ali andei à procura, sempre com o rabo do olho a controlar a escapatória para Norte onde havia muitos campos aterráveis até ver, de novo, uns passarucos providenciais, dirigir-me a eles e, yesss!, subir, recentrando com frequência, desta vez até ao cloudbase a 3000. Como andava por ali sozinho e o trajecto que iria percorrer a seguir não tinha aterragens decentes deixei-me entubar, concentrando-me na bússola, para mais duas ou três voltas calmas, brancas e frutuosas.

Fixei o rumo em 230 - 240º e fui voando, de nuvem em nuvem que nessa altura os cúmulos bem formados abundavam no meu caminho, passando a Norte da barragem de Villar del Rey em direcção a Alburquerque, zona que conhecia bem dos voos a partir de Castelo de Vide.

Fui seguindo uma estrada e falando com a Vera pelo radio. Ela seguia exactamente por baixo de mim, concentrada nas indicações insuficientes dos Flymaster e nas muito melhores dos telemóveis no Find My Friends. Consegui mesmo, quase 3000m acima dela, ver o nosso carro e descrever-lhe o percurso que fazia. Escusado será mencionar a segurança que inspira ter a recolha directamente por baixo de nós e podermos comunicar com ela...

Mantive o mesmo rumo depois de Alburquerque. O vento não estava forte, sempre abaixo de 20km/h, mas como me mantinha sempre bem acima dos 2000m tinha pelo menos 20km de chão onde procurar aterragens perto de uma estrada de alcatrão.

Vi e reconheci Portalegre, 20 km a Norte do meu trajecto, no sopé da serra de S. Mamede, mas a partir dali e no mesmo rumo que trazia anteriormente não reconheci mais nada, visto nunca ter voado por aquelas paragens.

Passei a Sul de uma barragem - que agora sei ser a de Avis -, com o olho na barragem seguinte, que sabia ser a de Montargil, comprida e com o aeródromo de Ponte de Sôr do lado Oeste, pensando se deveria inflectir para NO e ir aterrar perto de Mora, em casa dos meus sogros. As contas rápidas que fiz mostraram-me que essa hipótese me daria até 170km e, por pensar que podia chegar bastante mais longe no voo e mais perto de Lisboa, descartei-a e prossegui no mesmo rumo.

Foi logo a seguir que estive mais baixo de sempre neste voo, a 1500. Apontei de novo a uma nuvem com aspecto velho mas que deu para me colocar de novo a 3000, com trechos de subida a 4m/s integrado.

Nessa altura vi uma coluna de fumo quase paralela ao chão que indicava vento forte de ONO. No entanto a indicação do meu variómetro era de que o vento estava mais fraco, à volta de 7km/h, mas ainda de NE, pelo que ainda apanhei mais uma térmica ao seguir no rumo original.

Apanhei a última térmica, de novo até quase aos 3000, por cima de Lavre e aí inflecti definitivamente para Sul (200º) para diminuir a componente de frente do vento do mar, que já via bem a Oeste, e chegar aos 200km, meu alvo nessa altura. Embiquei a Alcácer do Sal e fui indo, durante 40 minutos, com um bom planeio que me garantiu mais 40km sempre a direito, sem enrolar, até escolher um vasto campo a Este de Alcácer onde aterrei parado, com a asa na mão - a única vez nos três voos que fiz em Cáceres mas o suficiente para que as más línguas não possam dizer que eu aterro SEMPRE mal ...-, num ventão de Oeste.

Carreguei a asa para a sombra de uma oliveira, virei-a com dificuldade por causa do ventão - tive de arranjar uns pedregulhos para escorar a barra e evitar que ela fosse empurrada pelo vento -, contactei a Vera que estava a 20 minutos, recebi os parabéns do Lemauz e comecei a desmontar, sempre condicionado pelo ventão que às tantas me virou a asa, já meio desmontada, amachucando o estabilizador de cauda...

Uma hora e muitas peripécias e dificuldades - dela e minhas - depois chegou a Vera, pusémos a asa em cima do carro e o resto da tralha lá dentro e voltámos para casa onde, às 22:00 horas, estávamos de banhinho tomado e a acabar umas pizas óptimas da Luzzo. Onde é que se viu fazer um cross de 210km e 5 horas e 20, descolando em Espanha e estar pronto e em casa no mesmo dia às 22:00?!...

Devia ser sempre assim.

Ah, e tendo em mente tanto este voo lindo, de Espanha para Oeste, como os nossos simpáticos amigos Vento e Cristina e os dias que passámos em Cáceres, permitam-me que melhore o provérbio, cuja nova redacção seria "de Espanha arranjou o Vento bom casamento"... ;-)

 

Nas fotografias:

- Descolagem atrás do triciclo,

- Enrolando sobre o aeródromo com o Konrad,

- Abutres na térmica,

- A sair do tubo (1 e 2),

- Aterragem,

- Recolha (1,2, e 3),

- Percurso da recolha.

 

 

 

PortugalRicardo Marques da Costa @ 2020-12-06 14:55:24 GMT Linguagem Traduzir   
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Obrigado pelo feliz relato, que só assim é possível ter uma imagem destes três belíssimos voos de quase 600km. Este último até parece que juntaste Cáceres a Alcácer, cidades já juntas de antanho pela raiz moura!

 

O ficheiro IGC que aqui nos deixas dá para aproximar e até descarregar no Google Earth para podermos simular e duplicar o voo quanto baste. Mas sem essas palavras seria muito redutor e nem nos lembraríamos de aproximar na zona do Lavre, onde jantámos tão bem doutras vezes, nem da Serra de S. Mamede e de Albuquerque, que já tenho saudades e ainda noutro dia lá fui.

 

Há por aí imensos voos épicos e muitas competições dignas da atenção dos melhores cronistas, que são apenas faladas de vez em quando em círculos restritos, que serão votados ao esquecimento...

 

P.S. o Rui foi para se despedir da asa. Eu fui para o chão porque, cansado, já estava a calcular, mal, que era mais tarde e estava com receio de aterrar com pouca luz com os óculos (muito) escuros eu estava a usar.

PortugalAntonio Aguiar @ 2020-09-17 18:56:45 GMT Linguagem Traduzir   
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Já tinha comentado há bastante tempo, mas não consegui publicar. Férias e tal, lembrei-me agora de vir procurar os voos deltistas e fico preocupado... 

 

Então há um mês que nem FAI1, nem FAI5? O que se está a passar? Desistiram?

 

Abraços

PortugalAntonio Aguiar @ 2020-09-17 19:00:15 GMT Linguagem Traduzir   
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