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O meu terceiro voo mais comprido - 275 km - e segundo mais longo - 07:30 horas - de todos aconteceu ontem, a partir de Patu.

Depois de 10 dias em Tacima, à procura de voos compridos, em que errei todas as previsões, fiz todas as más escolhas, nomeadamente de não voar nos dias em que foram batidos os recordes de distância em asa delta - agora 619 km pelo Glauco Pinto - e em parapente - agora 581 km pelo trio Rafael Saladini, Ceceu e Rafael Barros - e apenas voei três merrequinhas de 56, 75 e 162 km, depois de estar num hotel que disso tinha quase só o nome, suportando mesmo dois dias de chuva - no sertão, já ouviram falar?, aquela região desértica do Nordeste do Brasil?... - e ventos com rajadas de 60+ km/h, perdi a paciência, fizemos as malas e viemos para Patu no dia 13, debaixo do céu mais bonito que vimos desde que chegámos ao Brasil.

Ontem, depois de bem dormidos na Pousada Voo Livre, do Rubinaldo, fizemos o horário do costume: despertador às 05:00, pequeno-almoço às 05:30, estar na rampa às 06:00, parapentes a descolar entre as 06:30 e as 07:00, eu a descolar lisinho às 07:30 para um céu quase vazio de nuvens com 8 parapentes que se mantinham 300m acima da descolagem...

Estive quase 1:20 para conseguir subir às nuvens que entretanto se tinham formado timidamente a 1500m e sair, rodando entubado, sozinho, atrás dos parapentes que me levavam quase 15km de avanço. Atrás do monte não havia nuvens e a meio do trajecto vi os trapos a enrolar devagarinho antes de Umarizal. Dirigi-me à térmica deles, sempre a descer e sem apanhar nada, pensando que provavelmente iria ter de aterrar antes de os apanhar. Aos 150m do solo desisti de lá chegar, abri o arnês e fiz-me a um campo menos mau para aterrar. Apanhei o que parecia uma termiquita, dei duas ou três voltas para a centrar e, felizmente, vinte voltas depois estava a 1200 e via os trapos a enrolar uma segunda térmica meia dúzia de quilómetros a sotavento.

A partir daí fui voando cautelosamente atrás deles, devagarinho para os acompanhar. A Vera e o Gilmário, o meu "resgate", vinham mesmo por baixo de nós, sempre em contacto visual e por rádio.

O grupo era liderado pelo Carlos e pelo Eusébio, que iam puxando os cinco mexicanos - um tinha ficado para trás, no monte. Por volta dos 40 km estávamos todos juntos e assim fomos mais vinte e picos quilómetros, com o Eusébio, que ia quase sempre à frente depois de ter declarado várias vezes, pelo rádio, que não queria prosseguir porque tinham saído tarde do monte, porque o vento estava fraco, porque o dia não ia dar para 500 km, a descer e a aterrar depois do km 60. O Carlos seguiu-o para baixo e aterrou com ele.

Entretanto outro dos mexicanos desapareceu e os quatro restantes e eu próprio continuámos, juntos, até à barragem grande do Castanhão, aos 100km, onde chegámos após quase 4 horas de voo, uma média miserável. As nuvens entretanto tinham-se desenvolvido e o céu mostrava-se convidativo, com o tecto logo abaixo dos 2000m.

Fartei-me de acompanhar os trapos, pensei que podia aproveitar melhor o voo indo mais depressa e deixei-os para trás, evoluindo de nuvem em nuvem na direcção do vento, que soprava na direcção de Quixeramobim, a 200km de Patu. Essa parte do voo foi tranquila, de cloudbase em cloudbase, sempre com aterragens possíveis e a segurança de ter a Vera e o Gilmário mesmo por baixo de mim.

Antes de Quixeramobim inflecti para Oeste, com o vento que agora soprava de Leste, na direcção de uma extensa zona montanhosa com mau aspecto e poucas aterragens. Aí, depois das 14:00 horas - os registos do XC Portugal estão atrasados em 1 hora em relação ao tempo "real" - as nuvens tornaram-se mais esparsas apesar de mais altas, o que me obrigou a voar de nuvem em nuvem, nem sempre seguindo a rota do vento mas garantindo altitude suficiente para chegar a aterragens seguras. Às 14:30 cheguei aos 2500m mas, com sete horas de voo, a uma média horária miserável que não me permitiria melhorar a minha maior marca anterior de 400 km, já estava dorido e fartinho de todo pelo que me deixei ir, sem fazer grande esforço para aproveitar as ascendentes que ainda se atravessavam no meu caminho, na direcção Oeste, para mesmo assim maximizar a distância percorrida, sobre uma região horrível para aterrar. Apontei a um campo aparentemente aceitável na entrada de uma vila que, soube depois, se chamava Santa Cruz de Banabuiú, com medo de não ter altura suficiente para lá chegar e mantendo o rabo do olho num outro campo que tinha sobrevoado cinco quilómetros antes e onde daria. Ao chegar a esse campo na entrada da vila, a pouco mais de 100m do chão, vi que um cabo eléctrico atravessava o campo, inviabilizando a possibilidade de aterragem. Felizmente para mim dois urubús mostraram-me onde podia subir uns metritos  que me permitiram chegar a um bom campo um quilómetro depois onde me pus de pé, me virei ao vento, e aterrei impecavelmente com uma corridinha e a asa na mão. Desta vez consegui virá-la de costas para o vento sem estragar nenhum fusível mas nem tentei levá-la para a orla do campo e para uma mini-sombra onde deixei o arnês. Troquei as antenas do rádio e dois minutos depois de ter aterrado consegui contactar a Vera, que chegou com o Gilmário nem 10 minutos depois.

Desmontámos, arrumámos tudo por entre golos de Itaipava geladinha e, com jantar pelo meio, voltámos para Patu, onde chegámos antes das 23:00.

Foi um bom dia.

PortugalRicardo Marques da Costa @ 2019-11-18 22:17:56 GMT Linguagem Traduzir   
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