Hoje fui desclassificado: prova de 88 km em dia merreco e tapado, depois da descolagem e de umas voltas na encosta subo rápido ao cloudbase a 1500m e arranco, sozinho, no trajecto da prova. Com o frio o meu instrumento, um Kobo HD Glo que comprei especialmente para que me indique o "airspace", uma treta que desprezamos quase por completo em PT mas que aqui está por todo o lado e é obrigatório cumprir, congelou, na verdadeira acepção da palavra. Mas já tinha tirado o azimute e ainda tinha o Flymaster, deixei-me ir a voar à vista em direcção à primeira baliza a 40km, sempre a descer. Na rota tudo tapado, chão escuro. Dez quilómetros à esquerda da rota abre-se uma clareira de Sol, desvio-me para lá. Chego com 400m, alguma sustentação mas nada enrolável. Vejo uma área grande com uma espécie de pista de motocross, um parque de estacionamento de carros, algumas construções - um clube recreativo, pensei, boa cerveja, gente, recolha fácil, campinho à maneira, é lá mesmo. Aterragem de papo - estou especialista - e vejo outro merrequeiro 100m acima de mim. Faço-lhe sinal que o campo é bom, dou-lhe a direcção do vento, pego na Gopro e filmo a aterragem dele, a 10m de mim, perfeita. Felicitações efusivas um ao outro, volto para a asa tirar os variómetros aparece um chui carregadinho de pistolas e parafernália militar. Eu, sem perceber, bem disposto e impressionado, cumprimento-o "what an outfit!". O gajo, com má cara, a perguntar o que faço ali, no campo de treinos dos SAS (googlem se não sabem)... Explico que não fazia a mínima ideia de que a área era proibida, que o meu equipamento congelou, "quer ver?..." Mostro-lhe o Kobo, que entretanto - cabrão! - descongelara, a flashar "Danger area, forbidden", com o ícone da asa mesmo no meio de um círculo cinzento enooorme...

Fazem, ele e o colega, um auto com as nossas identificações, lá acabam, no decorrer da conversa, por dizer que não lhes parece que tivéssemos "malevolent intents", pedem para ver a Gopro - não, não filmei senão a aterragem do meu amigo, minto eu; temos de ver, tem de apagar, dizem eles.

Entretanto chega a minha recolha, escoltada pela bófia, já depois de terem reformatado o cartão da "dashcam" que têm sempre ligada no carro, carregamos o material do outro merrequeiro e meu, vamos para o headquarter - eu dentro do carro da bófia, uma "première" - tentar mostrar-lhe os filmes na Gopro, sem êxito que não conseguimos ver o filme directamente na maquininha. Tive de lá deixar a Gopro, de voltar ao hotel, a quase uma hora de distância, buscar o meu carro, o computador e o leitor de cartões. Lá lhes mostrei o filme da aterragem do meu amigo, que me obrigaram a apagar. Enquanto fazia isto entrou outro chui à civil, disse boa tarde aos colegas e a mim, passou e voltou 5 minutos depois, já fardado de chui, a rir-se para mim. "So they already told you my story?", perguntei. Riu-se abertamente, que assim já todos teríamos uma história para contar...

Voltei para a terra do QG do campeonato, havia o jantar da prova, churrasco e entrega de prémios do ano passado da Liga XC. Por entre salsichas e hambúrgueres entregaram os prémios todos dos melhores voos, disto e daquilo, e depois entregaram, para finalizar, o prémio "Ouch", cuja "taça" é a estilização de um montante partido: o gajo da federação disse que era costume entregarem esse prémio ao piloto que tinha aterrado em cima da árvore, dentro do rio ou no buraco, mas que nesta ocasião tinham decidido entregar-mo a mim. Mas, depois de pensarem bem, resolveram entregá-lo ao gajo que tinha a mania dos instrumentos, das electrónicas, dos mapas e dos "airspaces" e que me seguiu naquele campo...

Menos mal, ninguém chegou ao golo.

Amanhã há mais. Aviso: não comprem um Kobo...