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Ontem a previsão para a Gardunha era boa para fazer uns quilómetros.

Fução, enxotei o João Ramos e o Dani, que não tinham recolha e se propunham ir lá ter: a perspectiva de um voo comprido com regresso por Badajoz / Lisboa e a hipotética obrigação de fazer depois mais quatro ou cinco horas para ir e vir à Gardunha trazê-los aos respectivos carros fizeram-me responder-lhes que "nim".

Fomos sozinhos, a Vera e eu. Viagem boa, a A23 quase toda ardida e ainda a arder - vimos três aviões e três helicópteros de roda do mesmo fogo, em Abrantes -, chegada às 11:00, ventinho de 10km/h de frente para a rampa, uma condição espectacular apesar da atmosfera leitosa e densa e da passagem 1000m acima de alguns seis caças a jacto... O local de montagem das asas foi o único lugar do cimo da Gardunha que não ardeu, felizmente.

O plano, que conseguimos manter, era de descolar às 13:00. Sem espinhas, ascendência ligeira à esquerda da saída até aos 1500m, com dificuldade. E depois foi andar por ali a tentar encontrar algo, sem sucesso. Fui para baixo - não tinha ido ver a aterragem do meio do Fundão - e no campo de futebol de Alcongosta apanhei mais uma térmica que me subiu de novo a 1200m.

Percebi, quase uma hora de luta passada, que não iria conseguir subir o suficiente para passar para Sul da serra em segurança, por isso avisei a Vera de que ia aterrar e procurei um campinho a Este do Fundão.

Aproximação boa, apesar do início do campo ser ligeiramente a descer, virado ao vento dominante, Oeste na altura com 15km/h. Às tantas vejo um bando de andorinhas no fim do campo a revoltearem numa térmica e percebi que a "coisa" podia vir a correr menos bem, como a aceleração que senti a partir dessa altura, causada pelo vento de costas...

Varar mais de meio campo a razar o chão, preparar-me para o flare e assumir "the position" com todos os éfes e érres, nomeadamente com o braço esquerdo a tapar a cara e com o direito tentando manter a posição em relação à asa foram as minhas actividades nos segundos que antecederam dar por mim virado ao contrário por cima do nariz da asa depois de ter capotado... A dificuldade do costume - "do costume", sim, porque esta foi pelo menos a terceira vez que capotei, estou quase um especialista - em sair do arnês, cuja cinta esticada impedia qualquer tentativa de soltar o mosquetão, obrigou-me a despi-lo pela frente.

Para constatar que a asa estava incólume, sem uma mossa, rasgão ou marca nos tubos de carbono. Eu, além de um pé e do cotovelo e do joelho esquerdos esfolados e da coxa esquerda amassada, só me doía o ego. E pesava a consciência de ter enxotado os meus amigos.

Às vezes tenho devaneios de que Deus é um gajo lixado, muito atento mas muito vingativo: desaproveitei um dia com bom potencial, fiz a merreca do ano e a pior aterragem de sempre com a ATOS, deixei dois amigos agarrados, demorei mais duas horas que o costume a voltar para Lisboa pelos cortes de estradas por causa do fogo... Não valeu a pena e foi certamente a "paga" pela minha fuçanguice e egoísmo. A não ser pelas lições de como não fazer...

Logo depois de aterrar deparei com um louva-a-Deus gigante que ficou parado em cima da asa, ao Sol, durante a hora que durou a desmontagem até eu lhe pegar e o atirar para longe quando fechei o saco. Aproveitei para agradecer...

 

Nas fotografias:

- À vertical da descolagem, com a Gardunha toda queimada;

- Aproximação à aterragem;

- A ceifa, em estilo moderno; note-se a assunção, correcta, da "the position";

- 180º depois, foi este o resultado;

- A louvar a Deus sobre a asa.

 

PortugalRicardo Marques da Costa @ 2017-08-19 08:45:12 GMT Linguagem Traduzir   
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