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Ontem foi um dia giro.

Que tinha começado, em termos de voo, quando na quarta-feira mandei uma mensagem ao Timba Calhau e ao Voar Delta dizendo que "procuro companhia e recolha para amanhã, quinta-feira, para ir descolar a Castelo de Vide. Parece-me um dia bom para fazer MUITOS quilómetros. E também me parece que vai dar ladeira - vento SW de 15 a 25km -, para alguém que não queira habilitar-se a fazer um cross. A aterragem está limpa e a estrada até à aterragem oficial está boa. Candidatos ?"

Duvidoso do êxito da minha procura, mandei mensagem parecida para os Companheiros de Voo. Logo recebo um telefonema do Carlos Lopes perguntando se podíamos ir juntos. Que sim, claro. E ele arranjaria recolha ou, comprometeu-se, "iria buscar-me a casa do c...o mais velho".

Combinámos às 08:30 no Montijo, depois de eu ter ido a Odivelas buscar o recolhão do dia, o Alexandre, sócio do CL.

Demorámos quase 3 horas até CV pela estrada nacional, debaixo de uma temperatura abrasadora que às 10:00 já ultrapassava os 30º. O céu estava esquisito, com uns cúmulos leves e muito altos, e não havia vento.

Às 11:30 estávamos na descolagem, com bufos irregulares de Sul e 35º de temperatura; comecei a montar.

Apareceram primeiro duas espanholas que, sem perguntarem nada a ninguém, estenderam os trapos e mandaram-se dali a baixo para aterrarem poucos minutos depois no oficial. O CL foi fazer a BA do dia e foi buscá-las.

Entretanto chegou a camioneta do Flytime Edu, carregadinha: além do próprio e da Andreia, vinham o Nélio e mais três ou quatro.

Enquanto eles se organizavam e eu acabei de armar a asa os ciclos compuseram-se: o vento virou mais para SW e aumentou de intensidade, as térmicas passavam mais marcadas e prolongadas.

O CL foi dos primeiros a descolar e ficou rapidamente mais alto que todos. O Eduardo foi o último e eu fui depois, tendo ficado ambos sozinhos na ladeira porque o resto do pessoal já andava lá pelo alto preparando a primeira transição. A subida não estava fácil nem franca mas era regular, com vários núcleos, o que nos permitiu chegarmos aos 2000 perto um do outro mas girando cada um o seu núcleo.

Fomos para trás, ele mais pela direita eu pela esquerda, direito a um molho de trapos que subiam perto da Beirã. Subiam pouco. Ensaiei umas voltas, subindo também pouco, e apanhei a Andreia numa térmica, em que entrei quase à altura dela. Rapidamente me cortou a volta e se instalou no meiínho da ascendência. OK, "nê boda" (de "no bother") como eles dizem na Escócia: f...-se, eu sou um cavalheiro, c...o ! Então não deixo passar esta fdp à frente ? Claro que deixo !... ;-)

Havia pouco vento, a atmosfera estava leitosa, as nuvens, os mesmos cúmulos pouco densos e que se prolongavam para baixo, iam aparecendo e tapando cada vez mais o chão. Apesar do vento predominantemente SW a todas as altitudes, tanto o Eduardo como o Carlos puxavam para Este; ainda ensaiei um par de tentativas goradas para os trazer para a direcção que o vento aconselhava. Como não consegui, nesta fase larguei os trapos e, a 2300, dirigi-me para Membrio, a 10km. Cheguei lá a 1200m e apanhei uma boa, que me permitiu chegar de novo aos 2200.

As nuvens iam tapando o chão pelo que, decidido a não perder tempo, fiz-me ao planalto em direcção da barragem de Alcántara.

Rapidamente fiquei baixo, a 1000m, sem que as gargantas do rio que atravessei tivessem ajudado o que quer que fosse. Consegui depois apanhar uma espécie de zerinho muito turbulento - as térmicas estavam todas muito turbulentas, partidas e "cacetosas", como é típico de um dia tão seco - que me levou durante meia dúzia de quilómetros e até 1700m.

Vi então o CL e o EL que vinham um pouco mais a Oeste. Como a condição estava difícil, as térmicas não abundavam e eu estava baixo, resolvi esperar por eles e pela sua ajuda a procurar térmicas.

Juntámo-nos antes de Brozas, descendo sempre a despeito das tentativas para domar mini-ascendentes que não davam em nada. O Eduardo arrancou para Sul, o Carlos seguiu e eu fui atrás, até uma térmica a que cheguei a 750m, 350m acima do chão... Larguei-a a 1500, com o CL e o EL 200m acima de mim, e seguimos o vento, que soprava quase de W, agora com mais de 20km/h.

Quando estava a ir-me embora de Brozas vejo chegar a Andreia na sua asa colorida, praticamente à nossa altura. Fomos andando para Este, com a Andreia um pouco mais baixo e mais atrás. O vento soprava de WSW com até 25km/h e as térmicas eram raras e muito espaçadas.

Eu ia indo com o CL e o EL, curioso acerca das escolhas do EL que, apesar de chegar muitas vezes ao cimo das térmicas abaixo do CL, desarvorava em direcção a Este sem dar indicações ou consultar-nos. De vez em quando, escaldado com o voo de há cinco dias em que me deixei apanhar numa sombra que me "aterrou", eu alertava para a vantagem de irmos sobrevoando terreno ensolarado. Eles nem ligavam, mantendo o rumo E que, com o vento SW que então se fazia sentir, não me parecia a melhor direcção, ainda por cima porque os levaria a passar a Sul de Almaraz, longe das boas aterragens que existem a Norte da central.

Foi nessa altura que, com mais de 100km no papinho, perdidas as inibições e tendo constatado que o seu rádio funcionava, a Andreia se revelou em todo o seu esplendor: e vá de começar um diálogo com o CL em que perguntava em que km estávamos em relação à descolagem, qual a direcção que levávamos, a altitude, se o braço de rio que sobrevoávamos na altura era o primeiro, ou o segundo, ou o terceiro, ou o outro mais à esquerda, da vila ? Não, o das casas ? Da barragem ? Qual braço de rio ? O terceiro ? Ou o quadragésimo sétimo ? Almaraz ? Não me digam que são as duas torres de cúpula branca ? Passar para Norte da cordilheira ? Norte ? Mas de qual cordilheira ? Desta à esquerda ? Ou daquela à direita ?

De vez em quando ouvíamos uns espanhóis na frequência, perguntando quem éramos. E, durante todo o voo, fomos ouvindo num bom rádio o relato de uma recolhona pouco experiente que começou com dúvidas acerca da localização do Alfaia cerca de quinze minutos depois de eu ter descolado e que, depois de vários ameaços transmitidos cada vez mais efusivamente de que "já sei onde está o Alfaia e vou já recolhê-lo", entremeados do mesmo número de "enganei-me mas agora já sei onde está e vou já para lá", informou, pouco antes das 18:00, que "o Alfaia está recolhido". Suspirei de alívio e tomei mentalmente nota de que a FPVL devia criar o prémio "Wally" que, neste dia, seria entregue com propriedade ao Alfaia, afinal aterrado 3km a NE da Beirã...

Entretanto subimos, o CL, o EL e eu, a 3700 - finalmente acima dos 3000 que a previsão tinha vaticinado para o dia - e, vendo-os fazer ouvidos de mercador à minha recomendação de "sigamos o vento, sigamos o vento", perdi a paciência: quatro horas de voo, condição difícil e pouco rentável, pouca térmica e muito espaçada, a minha anquinha já a doer... Hum... Ia ser difícil fazer muito mais que 200km. Por isso aos 140km e vendo-os prosseguir para Este, decidi aproveitar o vento SW e dirigi-me para NE, passando 5km a Norte de Almaraz.

Nessa altura a nossa amiga Andreia exultava: minutos depois de nos ter dito que estava baixo perto de uma barragem e do CL lhe ter prometido "um canhão que está mesmo aí", salta-nos aos ouvidos, risonha e alegre, que "estou a 3700 e a andar a 80km/h !"; quase que lhe podíamos ver os dentes, de tanto que sorria...

Os últimos 50km foram de borla, à conta da restituição e do ventinho que me permitiam velocidades-solo de entre 80 e 90km, a perder muito pouco.

Eu já estava a ver o fim da história: já tinha voado aquela mesma rota a partir de CV e tinha aterrado perto de uma barragem cujas margens têm sobreiros a perder de vista que tornam impossível, a baixa altitude, a progressão na direcção de Pedro Bernardo, que já imaginava ao longe.

Resolvi aterrar no mesmo sítio, sem espinhas, com a asinha na mão.

Comemorar, telefonar à Vera e à recolha e desmontar foi obra de hora e meia, após o que chegaram o Alexandre e a Andreia: ela com 170km, o CL e o EL com 190, o que, com os meus 197km, fazia do meu o maior voo do dia.

Carregámos a asa e o material e fizemos 50km para Sul, até um restaurante onde o CL e o EL já nos tinham encomendado jantar. Foi aí que, por entre cañas e chuletons, a Andreia confessou ter apertado as voltas com medo da turbulência induzida pelo meu "avião" e o Eduardo nos explicou que arrancava mais cedo das térmicas para garantir que o CL e eu o seguíamos nas opções discutíveis que tomava...

Viemos os 5 no carro (mais uma asa "dupla", que a rígida se embala em duas metades, e três parapentes) e chegámos ao Montijo às 02:00 da manhã. Às 02:30 estava em casa e meia hora depois na cama, de banho tomado.

Grande dia de voo, que tenho de agradecer ao Carlos Lopes.

Nas fotografias:

- Com o Eduardo por cima da descolagem de CV;

- Com o Carlos, algures sobre Espanha;

- Com um grifo grande, dos muitos que vieram voar connosco ontem;

- Aterrado, com Gredos ao fundo;

- Jantar.

PortugalRicardo Marques da Costa @ 2017-07-14 18:11:17 GMT Linguagem Traduzir   
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