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Frustrado depois do malogro da saída com o JJ Cup, em que estivemos três dias pela Gardunha sem eu fazer um voo sequer, estava em pulgas para aproveitar  o que houvesse.

E a previsão para terça 26 era óptima: vento de 10 a 15km de SE, tectos acima de 3000 em Portugal e até 4000 em Espanha, uma caloraça das típicas.

Nos dias anteriores o pessoal dos trapos tinha andado a fazer voos de até 209km a partir de CV, Azinha e Montanchez e a meteorologia nem tinha estado tão favorável.

Com o JJCup fora de acção, o Fuzo comprometido no dentista, o Pedro Fonseca e o Zé Miguel que não podiam... Contactei o Carlos Virgílio, que estava disponível para voar, liguei ao Paulo Nunes dos trapos porque tinha lido que ele queria ir voar e não tinha como e ao Lemauz, que se prontificou a ser o nosso recolhão deste dia.

Comecei por desligar o telefone quando o despertador tocou às 06:45, pensando que estava de férias, que era parvoíce acordar áquela hora. Meia hora depois acordei de novo, estremunhado, e constatei que estava atrasado para o encontro às 07:45 com o Paulo Nunes à porta da FPVL. Telefonei a adiar para as 08:00, encontrei-o lá, fizemos a AE1 até Alcanena, onde chegaram logo a seguir o CV e o LE, que vieram juntos (e ao vivo...) de S. Martinho do Porto, segundo sugestão do próprio CV. E chegaram vivos e íntegros.

Às 10:40 estávamos em Castelo de Vide. O vento era praticamente nulo em todo o lado, o Sol brilhava num céu sem nuvens mas na descolagem havia uns bufos que ora vinham de frente, ora vinham de cada um dos lados. Não estava lá ninguém.

Perante a boa perspectiva, o Carlos e eu começámos a montar. Entretanto chegou uma pandilha de trapos, entre os quais estavam a Sílvia, o Paulo Herculano, o Carlos Lopes e um brasileiro amigo dele.

Os trapos descolaram ainda antes da uma da tarde. Mas não subiam facilmente, a condição evoluía por ciclos: ou entrava de frente, da esquerda ou da direita ou parava de todo, o que fez com que um ou dois dos trapos merrecassem sem apelo nem agravo.

Finalmente descolo às 13:00, num sopro bom de frente que me permitiu uma descolagem tranquila. Virei à direita, como costumo fazer em CV, para a térmica das pedras, que estava lá. Subo 100m, perco-a, vou à frente da descolagem onde vi um bando de andorinhas e aí vou eu pelo ar acima, até para mais de 2000m. O Carlos Lopes andava por ali, na mesma térmica que eu e 300m acima; o Carlos Virgílio descolou 15 minutos depois de mim e também vinha subindo devagar.

Resolvi ir para trás e arranquei com o Carlos Lopes, ele sempre mais pelo lado da cordilheira CV - Marvão, eu mais por Norte, pela planície. Subidas irregulares, térmica "cacetosa" sem estar violenta, esboço de nuvens altas para N e para E. Ao longe via a Sílvia, baixinho, na cordilheira de Membrio. Iamos todos na mesma frequência de radio.

O meu plano para o voo deste dia tinha sido aproveitar o SO, o tecto muito alto e os 15 a 20km de vento para atravessar Gredos de Sul para Norte, um projecto que já andava a ser esboçado desde há muitos anos e que só foi uma vez concretizado numa prova em Pedro Bernardo, em que atravessei a serra a Sul de Ávila, também de Sul para Norte. A partir daí iria em direcção a ... Burgos, mantendo o rumo NE. Já em outro escrito mencionei o optimismo com que as previsões de voo, especialmente nos dias bons, são normalmente encaradas...

Lá fui ouvindo os barulhentos parapentistas queixando-se da porrada - não sabem o que é porrada... - e de que estavam baixos, com o Carlos Lopes sempre a incentivar o seu amigo brasileiro.

Às tantas, por alturas de Membrio, o "grupo" desfaz-se, com os parapentistas a tomarem um rumo quase E e eu mantendo o rumo NE que tinha planeado: no chão o vento vinha de O mas em altitude vinha de S - SO.

Nesta altura já tinha chegado aos 3000m e calçado as luvas de ski que tinha trazido especialmente para o dia de hoje e para a possibilidade de andar muito tempo muito alto e, por isso, muito frio.

Sozinho. Com velocidades de transição em relação ao chão de 70km/h, subidas fáceis e regulares, térmica suave, abutres que vinham, enrolavam uma térmica e desapareciam.

Nesta altura ia quase com rumo N, apontado à zona em que sabia que Gredos era mais estreita e mais fácil de passar. Sobrevoei a Moraleja e, alto e confiante por saber poder voltar a bons campos de aterragem se a coisa descesse muito e eu tivesse de abortar a travessia da serra, lá fui rumando aos montes verdes, aproveitando todas as oportunidades de subida. A meio caminho entre a Moraleja e o cimo da serra apanhei uma térmica que me levou a 3000 e que me permitiu ir decidido direito a Norte, mas ainda apanhei mais outra quase à vertical da crista, tendo atingido uma altitude acima dos 3500, o que me deixou perfeitamente tranquilo acerca da travessia e já a fazer contas de cabeça quanto à rota a tomar depois de chegar ao planalto Salmantino.

Mantive o rumo NE, apesar do vento aqui estar globalmente mais W do que SW. E não voltei a subir acima dos 3000: o meu plano principal, de atravessar Gredos, estava cumprido com êxito; já levava 4:30 horas de voo e estou uma miséria de físico; a minha anquinha já estava a doer-me; o vento por vezes já vinha com um piquinho de Norte que tornaria menos eficazes os planeios nessa direcção... Deixei-me ir baixando, sem me esforçar por esgotar as térmicas, até que, a 200m do chão, constatei que tinha 165km e que mais uma térmica me daria 200km. Cheguei mesmo a pensar que mais duas me poderiam permitir ultrapassar os 260km que ainda são o meu recorde...

Esforcei-me, por isso, por me manter a voar e subir mas só consegui adiar a aterragem inevitável por 10km que demoraram 20 minutos a fazer. Acabei por aterrar virado para W, num campo com poucos sobreiros, após uma aproximação e um flare impecáveis, com dois passos e a asa nos ombros.

Depois de avisar a recolha, que me tinha seguido no Live (viva o Live, viva a Flymaster, viva !!!), da comemoração devida por mais um bom voo e de ter constatado que tinha ficado sem pinga de água por o meu camel back ter vertido pelo pipo, mal fechado, desmontei a asa (com uma perna às costas, pelo menos em comparação com a rígida) e esperei mais uma hora até ser recolhido.

O Carlos tinha feito um voo até Salorino, o seu maior cross de sempre. O Paulo Nunes tinha feito 183km e seria recolhido pelos amigos parapentistas. Quase todos os outros tinham feito bons voos, com o Carlos Lopes a ganhar o dia com 245km.

Voltámos por Ciudad Rodrigo, onde comemos uns óptimos chuletones que o Carlos fez questão de pagar para comemorar o seu maior cross de sempre (e, provavelmente, por ter constatado que nem ele nem o Lemauz são tão estúpidos como cada um deles pensava do outro...).

Às 02:00 estava em casa, depois de os ter deixado em Alcanema.

 

Nas fotografias:

- Descolagem corrida, atentamente verificada pelo Lemauz;

- Enrolando sobre a descolagem, com o Carlos ainda a preparar-se;

- "Blue over gold", e tudo está certo;

- Chuletón para os três;

- Revisão do voo.

PortugalRicardo Marques da Costa @ 2016-07-28 21:25:37 GMT Linguagem Traduzir   
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"é como andar de bicicleta"

continuas em grande forma winkyes

PortugalNuno Virgilio @ 2016-07-27 13:16:46 GMT Linguagem Traduzir   
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Parabens pelo fantastico voo, e obrigado pela descrição detalhada.

Espero que faças mais e melhores ainda este ano e que fiques o tempo suficiente para voarmos juntos.

Ricardo

Guest: RicardoLouro @ 2016-07-28 23:28:38 GMT Linguagem Traduzir   
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