Estava tudo a postos para um fim-de-semana comprido ao mais alto nível. O Paulo Frade tinha pedido que eu fosse ao AECB no Sábado para a tal inauguração do aeródromo com que nos tinha enganado na semana anterior. Como eu tinha combinado ir com o Lemauz de recolhão, foram juntos e eu fui lá ter.
Afinal os aviões já tinham ido embora e já não estava lá ninguém para ver as asas, pelo que pudemos ir para a pista de terra que sempre usámos para descolarmos com o vento Oeste de frente.
O Ricardo Louro também tinha ido. "Fezada", pensei eu: o Ricardo tinha estado presente em alguns dos meus melhores voos. Digo não ser supersticioso mas pareceu-me um bom indício. Afinal a tarefa do dia passou a ser apenas pôr os Ricardos no ar...
Enquanto montámos as asas na pista 27 o Paulo e o Lemauz montaram o sistema. O calor estava abrasador e o pouco vento lá acabou por alinhar com a pista, conforme previsto.
Descolei primeiro, larguei o primeiro cabo e, logo a seguir e sem querer, o segundo. Fiz um 360, alinhei-me à pista e fui em frente, sacudido para baixo e para cima pelo ar instável, até a um efeito de solo que descambou para a direita até à bicada, ligeira.
Na segunda vez subi bem, certinho. Senti uma térmica no princípio da puxada mas fui até ao cimo e depois de me largar voltei para trás. Lá estava qualquer coisa. Dei duas voltas a subir nada e a derivar para lá da cabeceira da pista, o que me fez vir aterrar, desta vez com a asa na mão.
Depois foi o meu homónimo. Muigo tempo para se preparar e ser puxado a primeira vez, sem êxito. A segunda tampouco.
Voltei a ser eu, para a terceira. Já passava das 14:30, eu suava as estopinhas, mas lá fui. Subi bem e, claro, investi nas pedras na cabeceira da 09, local onde tipicamente há mais actividade.
Bingo ! Logo para cima e, depois de uns acertos iniciais, demorei apenas 15 minutos a chegar aos 2900m, 2500 acima da descolagem e quase sem ter derivado.
O meu homónimo por lá continuou em tentativas, todas pouco frutíferas, enquanto eu fui tentava aguentar-me.
Perdi 800m. Cansado de esperar e com medo de que não voltasse a ter outra hipótese, avisei pelo rádio e fui-me embora para Este, 90º, na direcção de Toledo (...).
Por cima do rio Ponsul apanhei qualquer coisa que me subiu de novo aos 2400. A seguir ao Ladoeiro outra. Antes da Zebreira estive abaixo dos 1500, logo depois a 1300. Mas bastou passar a fronteira, na direcção da albufeira da barragem de Alcântara, para conseguir subir acima dos 3000.
Entretanto tinha mantido contacto rádio com o Lemauz, que já me perseguia, e com o Pedjão, que tinha ido descolar à Azinha e que acabou por aterrar perto de Monsanto.
Nesta altura deparei com um grifo enorme que começou a acompanhar-me numa térmica e, logo depois, várias famílias de grifos, águias e abutres num total de mais de 30 passarões juntaram-se-nos e acompanharam-me durante mais de uma hora.
Estava a chegar a uma linha montanhosa pequena e muito arborizada que se estende de Oeste para Este. O tecto estava bom e, apesar de quase não haver vento ou deriva nessa altura, pensei que podia usar a táctica dos trapos - e não só - de ir exactamente sobre as arestas das cordilheiras. Pagou: subi a 3600 e decidi manter essa rota enquanto estivesse acima dos 2000, o que me daria sempre glide para ir aterrar descendo a cordilheira, onde houvesse descampados.
Esporadicamente ouvia o Lemauz no rádio e ia tentando dizer-lhe por onde andava.
Mantive-me por volta dos 3000m até sair da cordilheira, apanhar a última do dia até aos 2400 apenas e fazer os últimos 30 km de borla até aterrar 2km a NE de Navalmoral de la Mata, de barriga, parado.
Tinha feito 165km. Nada mau...
Duas horas depois chegou o Lemauz. Voltámos para Castelo de Vide para irmos voar com os parapentes.
De facto continua a ser. E agora, com as pistas antigas 09 e 27 e as novas 16 e 34, muito mais: aeródromo de Castelo Branco, na ponta do cabo da Sobrevoar, o melhor lugar de Portugal para voar de asa delta. Obrigado Paulo.
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AECB rocks on !
Obrigado, Paulo.
Estava tudo a postos para um fim-de-semana comprido ao mais alto nível. O Paulo Frade tinha pedido que eu fosse ao AECB no Sábado para a tal inauguração do aeródromo com que nos tinha enganado na semana anterior. Como eu tinha combinado ir com o Lemauz de recolhão, foram juntos e eu fui lá ter.
Afinal os aviões já tinham ido embora e já não estava lá ninguém para ver as asas, pelo que pudemos ir para a pista de terra que sempre usámos para descolarmos com o vento Oeste de frente.
O Ricardo Louro também tinha ido. "Fezada", pensei eu: o Ricardo tinha estado presente em alguns dos meus melhores voos. Digo não ser supersticioso mas pareceu-me um bom indício. Afinal a tarefa do dia passou a ser apenas pôr os Ricardos no ar...
Enquanto montámos as asas na pista 27 o Paulo e o Lemauz montaram o sistema. O calor estava abrasador e o pouco vento lá acabou por alinhar com a pista, conforme previsto.
Descolei primeiro, larguei o primeiro cabo e, logo a seguir e sem querer, o segundo. Fiz um 360, alinhei-me à pista e fui em frente, sacudido para baixo e para cima pelo ar instável, até a um efeito de solo que descambou para a direita até à bicada, ligeira.
Na segunda vez subi bem, certinho. Senti uma térmica no princípio da puxada mas fui até ao cimo e depois de me largar voltei para trás. Lá estava qualquer coisa. Dei duas voltas a subir nada e a derivar para lá da cabeceira da pista, o que me fez vir aterrar, desta vez com a asa na mão.
Depois foi o meu homónimo. Muigo tempo para se preparar e ser puxado a primeira vez, sem êxito. A segunda tampouco.
Voltei a ser eu, para a terceira. Já passava das 14:30, eu suava as estopinhas, mas lá fui. Subi bem e, claro, investi nas pedras na cabeceira da 09, local onde tipicamente há mais actividade.
Bingo ! Logo para cima e, depois de uns acertos iniciais, demorei apenas 15 minutos a chegar aos 2900m, 2500 acima da descolagem e quase sem ter derivado.
O meu homónimo por lá continuou em tentativas, todas pouco frutíferas, enquanto eu fui tentava aguentar-me.
Perdi 800m. Cansado de esperar e com medo de que não voltasse a ter outra hipótese, avisei pelo rádio e fui-me embora para Este, 90º, na direcção de Toledo (...).
Por cima do rio Ponsul apanhei qualquer coisa que me subiu de novo aos 2400. A seguir ao Ladoeiro outra. Antes da Zebreira estive abaixo dos 1500, logo depois a 1300. Mas bastou passar a fronteira, na direcção da albufeira da barragem de Alcântara, para conseguir subir acima dos 3000.
Entretanto tinha mantido contacto rádio com o Lemauz, que já me perseguia, e com o Pedjão, que tinha ido descolar à Azinha e que acabou por aterrar perto de Monsanto.
Nesta altura deparei com um grifo enorme que começou a acompanhar-me numa térmica e, logo depois, várias famílias de grifos, águias e abutres num total de mais de 30 passarões juntaram-se-nos e acompanharam-me durante mais de uma hora.
Estava a chegar a uma linha montanhosa pequena e muito arborizada que se estende de Oeste para Este. O tecto estava bom e, apesar de quase não haver vento ou deriva nessa altura, pensei que podia usar a táctica dos trapos - e não só - de ir exactamente sobre as arestas das cordilheiras. Pagou: subi a 3600 e decidi manter essa rota enquanto estivesse acima dos 2000, o que me daria sempre glide para ir aterrar descendo a cordilheira, onde houvesse descampados.
Esporadicamente ouvia o Lemauz no rádio e ia tentando dizer-lhe por onde andava.
Mantive-me por volta dos 3000m até sair da cordilheira, apanhar a última do dia até aos 2400 apenas e fazer os últimos 30 km de borla até aterrar 2km a NE de Navalmoral de la Mata, de barriga, parado.
Tinha feito 165km. Nada mau...
Duas horas depois chegou o Lemauz. Voltámos para Castelo de Vide para irmos voar com os parapentes.
De facto continua a ser. E agora, com as pistas antigas 09 e 27 e as novas 16 e 34, muito mais: aeródromo de Castelo Branco, na ponta do cabo da Sobrevoar, o melhor lugar de Portugal para voar de asa delta. Obrigado Paulo.