Logo na quarta-feira 27, no Timba Calhau, o Pedjão, numa mensagem intitulada "E Sábado, Azinha-se?", perguntava "quem se Azinha ?".
Atento às previsões e ressacado do fds anterior em que tinha feito uma merreca desgraçada em La Parra enquanto o Paulo Frade, o Dani e o Hugo faziam um carradão de quilómetros cada um, respondi "Sábado que vem, de acordo com a previsão de hoje, não se Azinha, Gardunha-se: vento de NNE a virar para NO, entre 15 e 20km/h; a partir de Cáceres o vento aumenta para 20+km/h e fica de O. O tecto vai estar por volta dos 3000, nuvenzinha a marcar. Parecem-me reunidos todos os ingredientes para irmos jantar a Toledo… Eu vou - pelo menos à Gardunha, entenda-se - e já tenho o meu Recolhão-mor. Quem mais se habilita ? E para o fim‑de‑semana todo, se o Domingo parecer promissor ?"
Apesar das reticências do Pedro "Se der para a Azinha eu prefiro a Azinha, vamos vendo e falando. Marrecar na Gardunha é mais provável que na Azinha e a aterragem da Gardunha é mais exigente", o Dani alinhou logo: "Óla Alados, cá juro que vai estar um dia de recorde. Tetos de mais de 3000 e até 3700. Eu alinhava para Gardunha se tiver recolha. A Sole diz que este fim de semana chega. Que tem de estudar para a prova de Inglês. Parece-me que podemos tentar um crossinho para Caceres Toledo e todo para Este até onde puder. O Ricardo o que é que achas? Fico a espera..."
Respondi "Dani, Amigos, o Ricardo acha bem, e leva recolha. Foi, aliás, esse o plano que tracei ao PedJão: com o NO até Cáceres e depois, com o O, até Sul de Toledo “y más pá llá”. Os parapentes que sairam hoje do Vale de Amoreira, Azinha, estão nos 140 - 160km entre Piedrahita e Salamanca e ainda a mais de 3000m… Pena que o tecto amanhã não venha a estar tão fabuloso… Tu devias era vir já hoje ter a Lisboa, dormias em minha casa, deixavas cá o teu carro e amanhã arrancávamos cedinho para a Gardunha".
Não aconteceu assim: Pedjão em minha casa às 07:30; passar a buscar o JJCup de Recolhão-mor a Frielas, encontrarmos o Dani, sozinho, 20km antes de CB na A23, no sítio onde deixou o carro.
Às 11:00 estávamos na descolagem, com o nosso amigo Pedro Nunes (vigia de fogos).
O vento de 10-15km um nadinha da direita, cúmulos 500m acima da Torre, tempo fresco. A coisa parecia bem encaminhada. No entanto, do lado de Plasencia e desde a manhã, estacionou um cúmulo-nimbus que áquela hora já mostrava uma bigorna de jeito...
Montar e não montar 12:20, comer, anhar 5 minutos e descolar por volta das 13:00, que o dia prometia um cross grande; dois dias antes tinha estado a aprender tudo sobre o Live SD com o Cristiano e já tinha desenhado umas páginas "à minha maneira". Nessa perspectiva, precavidos que somos, tirámos logo uma fotografia na descolagem a fazer "Vês" de vitória como se tivéssemos já feito esses tais grandes voos. Eu, pelo sim, pelo não, tinha trazido a minha camisinha dos quilómetros propriamente dita, a das riscas roxas...
Primeiro o Dani, a subir pouco e a descer muito, depois eu, no mesmo registo, com o Dani já 200m acima, mais tarde o Pedjão.
Pela parte que me toca foi sempre a baixar, sem apanhar nada consistente, até rapar o morro da frente onde abaixo dos 900m, finalmente, algo tugiu e me permitiu enrolar uma térmica que me levou a 1800 à direita da descolagem. O Dani veio ter comigo e a partir desse momento fizemos todo o voo juntos.
Enquanto enrolávamos com dificuldade uns "uns" que não chegavam a "dois", quase não derivávamos, de modo que vimos o Pedjão aterrar no oficial, sem espinhas e, por volta dos 2500m, que só atingimos ao fim de três quartos de hora de penosa labuta, resolvemos deixar-nos ir para trás, em direcção a Idanha.
De vez em quando lá encontrávamos uma térmica, no céu azul que só mostrava CBs para o lado de Plasencia e alguns cúmulos na zona de Monfortinho, muito para E da nossa rota.
Fomos fazendo o voo entre 2000 e 3000m, com condição serena, térmicas lentas que davam, no máximo, 3m/s, e que derivavam pouco de NO. Quando transitávamos, a seguir à pergunta de um de nós "vamos?", fazíamo-lo a 300 - 500 m de distância um do outro, com as asas taco-a-taco em planeio, a do Dani um pouco mais rápida, a minha a subir um pouco melhor.
Ouvíamos esporadicamente a recolha no rádio e fomos dando as orientações pertinentes enquanto eles seguiam o meu trajecto no Live, parando de café com Wi-fi em café com Wi-fi.
O Dani de vez em quando picava-me: "mais depressa, mais depressa...". Mas eu já transitava a mais de 60 (ar), por vezes até 75, com velocidade-chão a atingir os 100 nas fases melhores.
A seguir a Cáceres, que cruzámos por N, fiquei baixo antes de um troço sem aterragens pelo que decidi dirigir-me à estrada principal para aterrar. Tive sorte e lá estava uma térmica que apanhei e se foi desenvolvendo, que me levou aos 3000 e para lá desses quilómetros chatos de olival denso.
Ao contrário da previsão, que dizia que a partir dessa altura o vento estaria de SO, ele manteve-se sempre de NO ou ONO, o que nos permitiu esquecer a cordilheira complicada que há a NE de Trujillo e concentrarmo-nos nas planícies amarelas que abundam nesta rota SE.
De novo baixos depois de Trujillo, resolvemos aproveitar a dinâmica de uma encosta a SE da cidade para apanhar uma térmica que nos levou para lá desse monte e até uma barragem onde apanhámos a última boa do dia.
O glide (quase) final permitiu-nos fazer mais 40km até que, depois de outra barragem, ao passarmos por cima de um olival esparso que permitia aterragens, o Dani mais baixo que eu e atrás de mim, anuncia que "vou aterrar neste campo, ali junto à casinha". De olho fisgado num campinho de recurso dois quilómetros à frente, que daria os 240+, relutantemente, concedi "ok, vou aterrar aí também". Volto para trás, pico para a aterragem e qual não é o meu espanto quando o s... do espanholito me diz "olha, aqui está a dar qualquer coisa" e eu, de pé, na final, a 30m do chão, virado ao vento, a ver o gajo a enrolar, devagar mas descaradamente, uns zerinhos mesmo à minha frente.
Felizmente para ele aquilo ou não deu ou a consciência pesou-lhe tanto que veio aterrar, depois de duas voltas, no local onde eu já tinha acabado de aterrar, parado, com a asinha na mão.
Comemorações do costume: ele tinha feito o seu maior voo de sempre com descolagem a pé e eu... Também !
Contactámos a recolha que, tendo seguido parte do meu voo no Live, estava a uma hora de nós.
Vários telefonemas de felicitações e o Nuno Virgílio, que tinha aterrado a 70km dali vindo de Linhares, a pedir boleia.
Desmontámos e, quando acabámos de fechar os arneses e íamos caminhar em direcção à estrada, apareceu a oportuníssima recolha no caminho de terra.
Fizemos os 70km que nos separavam do sítio onde o Nuno tinha aterrado, jantámos lá e trouxemo-lo até onde o Dani tinha deixado a carrinha, a Sul de CB, onde já estava a Rita à espera.
Cheguei à cama, já com banho e tudo, depois das 5 da manhã.
Mas, como perguntou o JJ Cup, "valeu a pena, não valeu"?
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Parabéns Amigo Ricardo, fazes parecer o dificil, fácil :) o teu 2º melhor voo de sempre certo ? Continua, que os 300 não tardam :)
PF
Bonito voo.Seis horitas no ar, para um voador de fs, é obra. Parabéns.
Logo na quarta-feira 27, no Timba Calhau, o Pedjão, numa mensagem intitulada "E Sábado, Azinha-se?", perguntava "quem se Azinha ?".
Atento às previsões e ressacado do fds anterior em que tinha feito uma merreca desgraçada em La Parra enquanto o Paulo Frade, o Dani e o Hugo faziam um carradão de quilómetros cada um, respondi "Sábado que vem, de acordo com a previsão de hoje, não se Azinha, Gardunha-se: vento de NNE a virar para NO, entre 15 e 20km/h; a partir de Cáceres o vento aumenta para 20+km/h e fica de O. O tecto vai estar por volta dos 3000, nuvenzinha a marcar. Parecem-me reunidos todos os ingredientes para irmos jantar a Toledo… Eu vou - pelo menos à Gardunha, entenda-se - e já tenho o meu Recolhão-mor. Quem mais se habilita ? E para o fim‑de‑semana todo, se o Domingo parecer promissor ?"
Apesar das reticências do Pedro "Se der para a Azinha eu prefiro a Azinha, vamos vendo e falando. Marrecar na Gardunha é mais provável que na Azinha e a aterragem da Gardunha é mais exigente", o Dani alinhou logo: "Óla Alados, cá juro que vai estar um dia de recorde. Tetos de mais de 3000 e até 3700. Eu alinhava para Gardunha se tiver recolha. A Sole diz que este fim de semana chega. Que tem de estudar para a prova de Inglês. Parece-me que podemos tentar um crossinho para Caceres Toledo e todo para Este até onde puder. O Ricardo o que é que achas? Fico a espera..."
Respondi "Dani, Amigos, o Ricardo acha bem, e leva recolha. Foi, aliás, esse o plano que tracei ao PedJão: com o NO até Cáceres e depois, com o O, até Sul de Toledo “y más pá llá”. Os parapentes que sairam hoje do Vale de Amoreira, Azinha, estão nos 140 - 160km entre Piedrahita e Salamanca e ainda a mais de 3000m… Pena que o tecto amanhã não venha a estar tão fabuloso… Tu devias era vir já hoje ter a Lisboa, dormias em minha casa, deixavas cá o teu carro e amanhã arrancávamos cedinho para a Gardunha".
Não aconteceu assim: Pedjão em minha casa às 07:30; passar a buscar o JJCup de Recolhão-mor a Frielas, encontrarmos o Dani, sozinho, 20km antes de CB na A23, no sítio onde deixou o carro.
Às 11:00 estávamos na descolagem, com o nosso amigo Pedro Nunes (vigia de fogos).
O vento de 10-15km um nadinha da direita, cúmulos 500m acima da Torre, tempo fresco. A coisa parecia bem encaminhada. No entanto, do lado de Plasencia e desde a manhã, estacionou um cúmulo-nimbus que áquela hora já mostrava uma bigorna de jeito...
Montar e não montar 12:20, comer, anhar 5 minutos e descolar por volta das 13:00, que o dia prometia um cross grande; dois dias antes tinha estado a aprender tudo sobre o Live SD com o Cristiano e já tinha desenhado umas páginas "à minha maneira". Nessa perspectiva, precavidos que somos, tirámos logo uma fotografia na descolagem a fazer "Vês" de vitória como se tivéssemos já feito esses tais grandes voos. Eu, pelo sim, pelo não, tinha trazido a minha camisinha dos quilómetros propriamente dita, a das riscas roxas...
Primeiro o Dani, a subir pouco e a descer muito, depois eu, no mesmo registo, com o Dani já 200m acima, mais tarde o Pedjão.
Pela parte que me toca foi sempre a baixar, sem apanhar nada consistente, até rapar o morro da frente onde abaixo dos 900m, finalmente, algo tugiu e me permitiu enrolar uma térmica que me levou a 1800 à direita da descolagem. O Dani veio ter comigo e a partir desse momento fizemos todo o voo juntos.
Enquanto enrolávamos com dificuldade uns "uns" que não chegavam a "dois", quase não derivávamos, de modo que vimos o Pedjão aterrar no oficial, sem espinhas e, por volta dos 2500m, que só atingimos ao fim de três quartos de hora de penosa labuta, resolvemos deixar-nos ir para trás, em direcção a Idanha.
De vez em quando lá encontrávamos uma térmica, no céu azul que só mostrava CBs para o lado de Plasencia e alguns cúmulos na zona de Monfortinho, muito para E da nossa rota.
Fomos fazendo o voo entre 2000 e 3000m, com condição serena, térmicas lentas que davam, no máximo, 3m/s, e que derivavam pouco de NO. Quando transitávamos, a seguir à pergunta de um de nós "vamos?", fazíamo-lo a 300 - 500 m de distância um do outro, com as asas taco-a-taco em planeio, a do Dani um pouco mais rápida, a minha a subir um pouco melhor.
Ouvíamos esporadicamente a recolha no rádio e fomos dando as orientações pertinentes enquanto eles seguiam o meu trajecto no Live, parando de café com Wi-fi em café com Wi-fi.
O Dani de vez em quando picava-me: "mais depressa, mais depressa...". Mas eu já transitava a mais de 60 (ar), por vezes até 75, com velocidade-chão a atingir os 100 nas fases melhores.
A seguir a Cáceres, que cruzámos por N, fiquei baixo antes de um troço sem aterragens pelo que decidi dirigir-me à estrada principal para aterrar. Tive sorte e lá estava uma térmica que apanhei e se foi desenvolvendo, que me levou aos 3000 e para lá desses quilómetros chatos de olival denso.
Ao contrário da previsão, que dizia que a partir dessa altura o vento estaria de SO, ele manteve-se sempre de NO ou ONO, o que nos permitiu esquecer a cordilheira complicada que há a NE de Trujillo e concentrarmo-nos nas planícies amarelas que abundam nesta rota SE.
De novo baixos depois de Trujillo, resolvemos aproveitar a dinâmica de uma encosta a SE da cidade para apanhar uma térmica que nos levou para lá desse monte e até uma barragem onde apanhámos a última boa do dia.
O glide (quase) final permitiu-nos fazer mais 40km até que, depois de outra barragem, ao passarmos por cima de um olival esparso que permitia aterragens, o Dani mais baixo que eu e atrás de mim, anuncia que "vou aterrar neste campo, ali junto à casinha". De olho fisgado num campinho de recurso dois quilómetros à frente, que daria os 240+, relutantemente, concedi "ok, vou aterrar aí também". Volto para trás, pico para a aterragem e qual não é o meu espanto quando o s... do espanholito me diz "olha, aqui está a dar qualquer coisa" e eu, de pé, na final, a 30m do chão, virado ao vento, a ver o gajo a enrolar, devagar mas descaradamente, uns zerinhos mesmo à minha frente.
Felizmente para ele aquilo ou não deu ou a consciência pesou-lhe tanto que veio aterrar, depois de duas voltas, no local onde eu já tinha acabado de aterrar, parado, com a asinha na mão.
Comemorações do costume: ele tinha feito o seu maior voo de sempre com descolagem a pé e eu... Também !
Contactámos a recolha que, tendo seguido parte do meu voo no Live, estava a uma hora de nós.
Vários telefonemas de felicitações e o Nuno Virgílio, que tinha aterrado a 70km dali vindo de Linhares, a pedir boleia.
Desmontámos e, quando acabámos de fechar os arneses e íamos caminhar em direcção à estrada, apareceu a oportuníssima recolha no caminho de terra.
Fizemos os 70km que nos separavam do sítio onde o Nuno tinha aterrado, jantámos lá e trouxemo-lo até onde o Dani tinha deixado a carrinha, a Sul de CB, onde já estava a Rita à espera.
Cheguei à cama, já com banho e tudo, depois das 5 da manhã.
Mas, como perguntou o JJ Cup, "valeu a pena, não valeu"?
Vale sempre a pena.. :)
obrigado pela boleia e pela partilha!
E parabéns pelo teu voo...
Noutro dia calhou-te a fava, mas desta vez comeste o bolo todo! Parabéns por mais um grande voo.