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Há grande Leão..... :-)

PortugalPedro Miguel Raimundo @ 2014-11-20 22:10:24 GMT Linguagem Traduzir   
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Eu estava danadinho para fazer um voo em S. Conrado, o que já não fazia desde há... 30 anos, visto que o último voo que aqui tinha feito, na minha Profil pif-paf, tinha sido em 1984.

Consegui, apesar da meteo duvidosa. A previsão, que se confirmou, era de manhã suave com vento a rodar para E e a subir para mais de 30km/h. Apesar, também, de não ter combinado nada com ninguém e de não ter asa, arnês ou vario.

Fui ao Pepino de manhã (zona SE da praia de S. Conrado, paraíso do voo livre no Brasil) e lá, ao sair do taxi, fui imediatamente abordado por três "cárais" que perguntavam se eu queria fazer um voo. Disse que sim, claro, que estava lá para isso mas que queria ir eu mesmo a pilotar. "Mais 'cê é piloto ? Dji ásá déutá ?". Dois deles, pilotos de bilugar dos trapos, foram-se logo embora. Ficou o meu homónimo "Ricardjinho dá Rampá", que disse logo que "arrumava" uma asa para eu voar, que ia falar ao sobrinho que também tinha uma "Laitchichpidji" como a minha. O preço? Como se fosse um voo duplo - o que me pareceu "muito legau", considerando que não me conheciam de lado nenhum, 400 reais com fotografias, empréstimo de asa, arnês e vário, "carona" até à rampa, asa armada e recolha. Um dia não são dias e eu estou velho; daqui a outros 30 anos não sei se vou estar em condição de me amandar lá de cima, portanto, que se lixe o dinheiro e pra cima é que é caminho.

Lá mostrei a minha licença de voo e o cartão IPPI e paguei 30 reais (10€) de seguro e uso de rampa. O Ricardinho e o Quiqui, dono da asa, agarraram em mim, na Lena e na minha sobrinha, meteram-nos num VW Santana a cair de podre e lá fomos morro acima até à rampa onde já estava o resto da minha família (estamos todos aqui a passar uma semana de férias) e a asa. Entretanto eu tinha pedido que me emprestassem também um variómetro - que sim, o Quiqui tinha um Compeo, mas eu tinha de comprar pilhas. Comprei pilhas.

O aspecto da asa era (quase) tão mau como o do carro. Afinal era uma Litespeed 3,5, mas das primeirinhas de todas, certamente com mais de uma dúzia de anos e a parecer cada ano que tinha. Demorei bem vinte minutos a vistoriar tudo na asa até decidir que me parecia suficientemente segura. O arnês, cocoon ("sárcófago", como lhe chamam aqui), tinha pelo menos o dobro da idade da asa, mas tinha paraquedas. Improvisei um limitador de descida dos ombros - não tinha, pelo que ou me agarrava bem à barra ou ficava a fazer o pino quando me deitasse - com duas cintas da asa, dei duas voltas ao hang-loop para o encurtar e fiquei pronto.

Quando tínhamos chegado "na" rampa era um corropio de gente a fazer voo duplo, tanto de asa - na rampa de madeira, de cima - como de parapente, na de baixo. Depois da asa montada, inspeccionada e reinspeccionada e do arnês regulado, o  vento estava espigadito, com 20 km de frente na rampa, direcção variável mas predominando da esquerda. No mar uma carneirada valente quase completamente ao longo da praia, ou seja, 90º da esquerda em relação à rampa. Corridinha boa - sim, que ali não "podjia fazê bêstêra" - saída logo a subir, sem espinhas. Rapidamente papei todas as asas que ainda estavam no ar, todas duplas, e andei por ali, 100 m acima da rampa, entre as pedras Bonita e da Gávea sem nunca conseguir ganhar a Gávea e pouco à vontade, com o ventão que estava e os recortes das pedras cujos correspondentes rotores desconhecia, para rapar as pedras e aproveitar melhor a termo-ladeira que havia. O vento aumentava rapidamente e virava cada vez mais para NE. Muitos urubús a enrolar pouco, nenhuns acima de mim. De vez em quando uma termiquinha mais consistente permitia-me subir durante três voltas encadeadas mas não passei dos 700m.

Entretanto o céu esvaziou-se de parapentes e, logo depois, de asas. Eu fiquei para ali, sozinho, apreciando a paisagem, apesar de tudo não completamente à vontade com o material, tanto pelas razões que já descrevi como pelo facto de saber estar a infringir uma carradinha de leis do Voo Livre, nomeadamente aquela que diz que só se deve mudar uma coisa de cada vez e eu ali estava a mudar tudo de uma só vez: local (30 anos depois vale como uma primeira vez), asa, arnês, variómetro... E a carneirada no mar era cada vez maior e mais paralela à praia, e as mangas que eles "botam" no cimo dos montes já me mostravam que o vento estava a querer vir de NE, com componente de costas para a rampa.

Às tantas lembrei-me que não sabia onde estava a pega do paraquedas, um grande tarolo ventral que me impedia de ver a ponta dos pés. Ainda pensei procurá-la com as mãos mas desisti antes ainda de começar a apalpar o enchumaço, com medo que ele se desfizesse sem eu querer.

Ao fim de meia hora, com o vício finalmente morto, pensando que a família já teria vindo para baixo, resolvi vir aterrar. Fiz-me ao mar para descer e comecei a apanhar cacetada de ferver, provavelmente devida à componente "terrau" (terral, de terra) do vento nessa altura. Fui enrolando descendente, "descapotei" (pus-me de pé) a 100m de altura, como faço quando não conheço os locais, ensaiei as costumeiras perdas para saber como é que a asa reagia a esse registo e para acertar a distância / altura até ao local onde o Quiqui já me acenava de longe, na areia, corrigi com a veemência devida três ou quatro cacetadas que de outro modo me teriam virado a asa, ouvi no crowd alguém gritar "mais vêlôcidadji cára", fiz a picada final direitinho até ao chão, algum efeito de solo e um flare certinho, parado, a um metro do Quiqui e da base da rampa que sobe da praia para a estrada. Yessss ! "Pêrfêito".

Nessa altura o vento cá em baixo estava de 30km, com rajadas acima disso e alguns 20º de componente de terra. Ninguém mais no ar, cerca de 30 asas em cima dos carros estacionados por ali.

15 minutos depois, já o Quiqui desmontava e eu bebia uma cerveja (mordomias naturais no Brasil), vem um parapente alinhar-se para a aterragem, de elevador, a fazer orelhas e sem avançar nada, sacolejando na turbulência. Comentei que "aquele cara não anda nada para a frente", que em terra onde fores ter fala como vires falar e eles não usam "gajo". Logo depois o gajo apanha uma "tendida" para a direita que não consegue corrigir e entra pelo mar adentro alguns 100 metros, amarando muito para lá da rebentação. O parapente mantém-se inflado e arrasta-o alguns metros paralelamente à praia e por ali fica, perante a estupefacção e a ansiedade do pessoal na praia. Meia dúzia correm, passam a rebentação e nadam até ele, que manteve sempre a cabeça à tona de água, conseguindo ajudá-lo a chegar a terra. O arnês e o parapente, agora apenas visíveis a flutuar na água, continuaram a derivar paralelamente à costa, para Sul.

Algum tempo depois veio um helicóptero com um mergulhador que recuperaram arnês e parapente e os depositaram no relvado onde eles fazem os inflados, junto à praia.

Aproveitei para conversar com o pessoal do voo, para rever o meu conhecido de há 30 anos Geraldo Nobre, um dos melhores voadores brasileiros, para comprar uma T-shirt com o dinheiro que tinha cravado ao Quiqui porque a Lena não tinha aparecido na aterragem com a minha mochila, telemóvel e dinheiro, beber mais duas bujecas, cravar o Compeo do Quiqui emprestado até ao dia seguinte para sacar o voo para o computador e voltar a pé para o hotel, no Leblon, feliz da vida e mais pronto para ultrapassar estes meses até voltar a Primavera e os - espero !... - grandes voos.

Nas fotografias:

1 - Correndo na rampa;

2 - Vista para SW, entre as pedras da Gávea à esquerda e Bonita à direita, com a Barra da Tijuca ao fundo;

3 - Vista para NE da "cidadjiii, márávilhózááá"...

4 - Vista de S. Conrado a partir do mar;

5 - Alinhado para a aterragem;

6 - Flare à vista do Quiqui;

7 - Feliz, com arzinho de parvo.

PortugalRicardo Marques da Costa @ 2014-11-22 18:42:32 GMT Linguagem Traduzir   
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Aqui está o voo livre no seu melhor, o voo sentimento, a emoção de ter voado.

Arzinho de parvo?...Só quem nunca esteve feliz é que não ataviou vez nenhuma o traje da felicidade.

Boas férias, adeus.

Guest: PedroFonseca @ 2014-11-23 09:13:22 GMT Linguagem Traduzir   
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Esperando não ser mal interpretado, arrisco afirmar aqui a mais profunda inveja...
Mas também a minha inevitável e não menos profunda admiração por um grande amigo.
Saravá!
Luís Vieira
PortugalLuís Vieira @ 2014-11-26 21:12:37 GMT Linguagem Traduzir   
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Tão bom quase como fazer o voo é ler o comentário do voo ! obrigado.

PortugalPaulo Gomes @ 2014-11-21 14:27:11 GMT Linguagem Traduzir   
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Obrigado, Paulo.

PortugalRicardo Marques da Costa @ 2014-11-22 13:26:15 GMT Linguagem Traduzir   
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Essà, cara, também eu gostava! Mas dou-me mal com o calor e com os mosquitos... (...estão verdes...). Parabéns! Abraço.

PortugalSérgio Domingues @ 2014-11-25 18:24:53 GMT Linguagem Traduzir   
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