Lamento a epidemia de hemorróidas - foi, não foi ? - que vos impediu hoje de virem voar à Serra e espero que os vossos outros olhos não tenham sido, também, atingidos por alguma maleita. Se foram e não puderem ler este escrito não tem mal, que eu escrevo para meu próprio gozo, para relembrar de cada vez que ler estas linhas o voozinho lindo que fiz hoje, sozinho.
É verdade, sozinho não tem a mesma graça. Mas, digo-vos, tem mesmo assim muita graça.
Arranquei cedo, sozinho, já disse, a ruminar imprecações, e só sorri ao ser ultrapassado perto do Carregado por um jipe de parapentistas onde só reconheci o Nuno Girão a fazer-me caretas. Ainda por cima o tempo estava fechado, com 100% de nuvens...
Encontrei-me com o JJ Cupertino na barragem de Gardete, ao lado da A23, onde ele tinha passado a noite a tentar dormir e à minha espera (história longa). Lá apanhei o meu Recolhão e fomos por aí fora.
O terceiro sorriso aconteceu quando, ao passarmos a serra de Vila Velha de Ródão, o tempo ficou, num repente, completamente desanuviado e solarengo.
Chegados ao Fundão tomámos o pequeno-almoço e pusemos as fitinhas na aterragem oficial. Subimos, metemos água em Alcongosta e aí demos com o Pedro, da torre de vigia de fogos. Até lá acima foi mais um tirinho e uma cara cheia de sorrir quando demos com o ventinho de 10km mesmo de frente para a rampa.
Uma hora e pouco para montar a asa e toda a parafernália que já considero indispensável, mostrar ao JJ como usar o Live no computador para me seguir, verificar que a condição estava supimpa com a Torre, lá à frente, ainda cheia de neve e os cúmulos a adensar-se por cima da Estrela, uns farrapinhos já formados na zona da barragem, a Sul, levar a asa para a rampa com a ajuda do JJCup e do Pedro que entretanto tinha subido de mota, vestir o arnês e, por essas 13:30, descolar lisinho, com três passos. Duas voltas de ladeira e a descer, a descer... Mas lá estava ela, 200m para a frente e para a esquerda. Devagar ao princípio e depois até 3 e picos integrado, lá subi, até aos 1700, altura em que disse que me ia embora para Sul. Mas desci logo a seguir, pelo que voltei à vertical da descolagem, subi de novo até aos 1700 e, como não dava mais, resolvi ir mesmo para Sul e para a nuvem cinzenta que entretanto se tinha formado por cima da barragem da Lardosa.
Aí fiz os dois mil e picos no cloudbase e a coisa parecia bem encaminhada para fazer a merreca da Gardunha, pelo que me dirigi para o AECB, quase sempre a descer. O JJ Cup vinha vindo e, já depois de Alcains - e sempre a descer - disse-lhe que fosse ter ao aeródromo que eu aterraria lá.
Ele tinha filmado a minha descolagem pelo que, chegando ao AECB antes dele e com menos de 700m (ASL, sempre), resolvi esfarrapar uns bufinhos para ver se me aguentava até ele chegar para filmar, também, a aterragem. A distância ainda não dava os 30km e o vento no ar era de N, embora no chão fosse de NE, pelo que fui voando por ali, consegui ir a CB fazer os 30, fui-lhe dando as indicações para o AECB e depois de o ver passar em Castelo Branco, segui-o pelo ar até ao aeródromo. Foi nessa altura que a coisa se compôs e que consegui subir até acima dos 1500 pelo que lhe disse que se metesse de novo no carro e viesse rumo a Sul e a Vila Velha de Ródão, para onde me dirigi.
De novo, sempre a descer. Já não havia mais nuvens, nessa altura e nesse trajecto, e logo depois de CB notei que as 4 eólicas que estão a Sul da cidade mostravam... Vento de Sul, ou seja, de frente para o meu trajecto.
Já tinha o papinho cheio, deixei-me ir em frente. Aterrei como vinha, de frente, num grande campo liso, de quilha espetada no chão como raramente faço, ao fim de 45km.
Telefonei ao JJ, dei-lhe as coordenadas e desmontei de tronco nu ao calor de um Sol de Verão, inspirado pela beleza do voo e das estevas em flor que nevavam a paisagem. Quando fechei o arnês apareceu ele, pusemos tudo no carro, fomos até Gardete para ele recuperar a sua carrinha e vim para casa, onde cheguei antes das 19:30.
Banhinho, sopinha, descarregar voos e filmes e escrever esta história para que, no próximo Inverno, eu me regale a ler isto e a lembrar-me de cada volta, de cada térmica e de cada momento deste Sábado de voo tão bom.
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Meus amigos das asas delta,
Lamento a epidemia de hemorróidas - foi, não foi ? - que vos impediu hoje de virem voar à Serra e espero que os vossos outros olhos não tenham sido, também, atingidos por alguma maleita. Se foram e não puderem ler este escrito não tem mal, que eu escrevo para meu próprio gozo, para relembrar de cada vez que ler estas linhas o voozinho lindo que fiz hoje, sozinho.
É verdade, sozinho não tem a mesma graça. Mas, digo-vos, tem mesmo assim muita graça.
Arranquei cedo, sozinho, já disse, a ruminar imprecações, e só sorri ao ser ultrapassado perto do Carregado por um jipe de parapentistas onde só reconheci o Nuno Girão a fazer-me caretas. Ainda por cima o tempo estava fechado, com 100% de nuvens...
Encontrei-me com o JJ Cupertino na barragem de Gardete, ao lado da A23, onde ele tinha passado a noite a tentar dormir e à minha espera (história longa). Lá apanhei o meu Recolhão e fomos por aí fora.
O terceiro sorriso aconteceu quando, ao passarmos a serra de Vila Velha de Ródão, o tempo ficou, num repente, completamente desanuviado e solarengo.
Chegados ao Fundão tomámos o pequeno-almoço e pusemos as fitinhas na aterragem oficial. Subimos, metemos água em Alcongosta e aí demos com o Pedro, da torre de vigia de fogos. Até lá acima foi mais um tirinho e uma cara cheia de sorrir quando demos com o ventinho de 10km mesmo de frente para a rampa.
Uma hora e pouco para montar a asa e toda a parafernália que já considero indispensável, mostrar ao JJ como usar o Live no computador para me seguir, verificar que a condição estava supimpa com a Torre, lá à frente, ainda cheia de neve e os cúmulos a adensar-se por cima da Estrela, uns farrapinhos já formados na zona da barragem, a Sul, levar a asa para a rampa com a ajuda do JJCup e do Pedro que entretanto tinha subido de mota, vestir o arnês e, por essas 13:30, descolar lisinho, com três passos. Duas voltas de ladeira e a descer, a descer... Mas lá estava ela, 200m para a frente e para a esquerda. Devagar ao princípio e depois até 3 e picos integrado, lá subi, até aos 1700, altura em que disse que me ia embora para Sul. Mas desci logo a seguir, pelo que voltei à vertical da descolagem, subi de novo até aos 1700 e, como não dava mais, resolvi ir mesmo para Sul e para a nuvem cinzenta que entretanto se tinha formado por cima da barragem da Lardosa.
Aí fiz os dois mil e picos no cloudbase e a coisa parecia bem encaminhada para fazer a merreca da Gardunha, pelo que me dirigi para o AECB, quase sempre a descer. O JJ Cup vinha vindo e, já depois de Alcains - e sempre a descer - disse-lhe que fosse ter ao aeródromo que eu aterraria lá.
Ele tinha filmado a minha descolagem pelo que, chegando ao AECB antes dele e com menos de 700m (ASL, sempre), resolvi esfarrapar uns bufinhos para ver se me aguentava até ele chegar para filmar, também, a aterragem. A distância ainda não dava os 30km e o vento no ar era de N, embora no chão fosse de NE, pelo que fui voando por ali, consegui ir a CB fazer os 30, fui-lhe dando as indicações para o AECB e depois de o ver passar em Castelo Branco, segui-o pelo ar até ao aeródromo. Foi nessa altura que a coisa se compôs e que consegui subir até acima dos 1500 pelo que lhe disse que se metesse de novo no carro e viesse rumo a Sul e a Vila Velha de Ródão, para onde me dirigi.
De novo, sempre a descer. Já não havia mais nuvens, nessa altura e nesse trajecto, e logo depois de CB notei que as 4 eólicas que estão a Sul da cidade mostravam... Vento de Sul, ou seja, de frente para o meu trajecto.
Já tinha o papinho cheio, deixei-me ir em frente. Aterrei como vinha, de frente, num grande campo liso, de quilha espetada no chão como raramente faço, ao fim de 45km.
Telefonei ao JJ, dei-lhe as coordenadas e desmontei de tronco nu ao calor de um Sol de Verão, inspirado pela beleza do voo e das estevas em flor que nevavam a paisagem. Quando fechei o arnês apareceu ele, pusemos tudo no carro, fomos até Gardete para ele recuperar a sua carrinha e vim para casa, onde cheguei antes das 19:30.
Banhinho, sopinha, descarregar voos e filmes e escrever esta história para que, no próximo Inverno, eu me regale a ler isto e a lembrar-me de cada volta, de cada térmica e de cada momento deste Sábado de voo tão bom.
Parabéns pelo voaço e pela optima descrição que nos deve motivar e inspirar a todos.
Grande, enorme e Sublime Ricardo,
Parabéns pelo voaço, pela motivação, por continuares a espicaçar a malta.
Espero que assim continues, mesmo sem que nós, os outros, mereçamos.
Grande abraço
Pedro Sampaio
Se a gente não apitasse, nem davas por nós...
Parabéns pelo voo.
Muito Bom Ricardo!
Se ficasse em escrito em pedra, a meu ver, seria a mais justa autobiografia do dito cujo!
Os meus sinceros parabens!
Abraço
mNeto
Nas fotografias:
Sozinho, i.e., sem outras asas, no cimo da Gardunha (courtesy of Pedro Nunes, aka Pedro da Torre de Vigia);
Descolagem, à vista do Pedro (courtesy of JJCup);
A rampa vista de frente;
Selfie;
A chegar ao AECB, sem grande folga...;
Por cima de CB;
A checar a direcção do vento por cima da aterragem (campo castanho que parece um bacalhau com estrada de terra);
A chegada do meu Recolhão.
Grande Mister...
Parabéns pelo voo e pela descrição.... "quase" que voei também... :-) fico á espera do filme...
Abraço